Na nossa segunda entrevista da série de “5 Perguntas” a reviewers, continuamos em território nacional e falámos com Fábio Lima, responsável pelo projecto Playing Season. Como é que começou o teu interesse por jogos de tabuleiro? Antes de mais muito obrigado por este convite. O meu interesse pelos jogos de tabuleiro surgiu em 2015, numa altura em que na agência estávamos a fazer um projecto para Macau. Eu estava à procura de referências visuais relacionadas com o oriente e deparei-me com o Tokaido... e foi amor à primeira vista! Para além de toda a componente visual, fascinou-me não existirem dados, a forma como os jogadores se movimentam no tabuleiro e a ideia de existirem vários locais que nos proporcionam diferentes formas de pontuar. E foi aí que se abriu a caixa de Pandora, uma vez que fui procurar outros jogos do Antoine Bauza no BGG e descobri que o mundo dos jogos de tabuleiro era bem maior do que aquele que eu conhecia. Aliou-se a curiosidade ao gosto de jogar (e a descoberta de um novo mercado cheio de potencial)... e puff... nunca mais parou! O que é que valorizas mais num jogo enquanto jogador? Os bons momentos que possam proporcionar! E a parte interessante é que esse conceito varia de jogador para jogador, de grupo para grupo ou de situação para situação. Agora, se me perguntares isso enquanto membro do Playing Season, aí terei outras respostas e que incluem uma abordagem mais técnica ao nível da construção e encadeamento de bons mecanismos, arte e produção. Como é o teu processo de análise e posterior divulgação? Primeiro, é muito importante conhecer o mercado, ou seja, jogar muito, acompanhar as novidades, saber o que são os mecanismos de um jogo, perceber os processos de criação do autor e das editoras, etc. É esta pesquisa, muitas vezes invisível para quem nos segue, mas que muito trabalho dá, que te traz bases para formulares opiniões sólidas, claras e justificadas. Depois, e olhando para cada jogo em concreto, só consigo fazer uma boa análise se tiver jogado o jogo! E não basta jogar uma vez ou com apenas um certo grupo de pessoas, pois diferentes contextos podem proporcionar diferentes experiências... e tudo isso são elementos relevantes para a análise que é feita. Por fim, todas as minhas análises, divulgados nos meus vídeos de review, são sempre sinceras e fundamentadas, até porque o que para mim pode ser um ponto positivo, para outro jogador pode ser um ponto negativo. E vice versa! Se te pedem para analisar um jogo de que não gostas, é-te difícil fazer uma crítica negativa sobre ele? Como referi, as minhas reviews são sempre sinceras! Portanto, se não gosto de um jogo, como já aconteceu, eu explico o porquê! E não me é, nem pode ser, difícil fazê-lo, até porque quem segue o Playing Season espera também essa honestidade e isenção, sem medos e com todo o respeito pelo trabalho desenvolvido. Nunca recebi de nenhuma editora o pedido para fazer uma análise aos seus jogos, penso que é daí que vem esta tua questão. As parcerias que estabeleço (que correspondem a menos de 10% do total de jogos já analisados e apresentados no canal) estão relacionadas com a criação de conteúdos que mostrem o jogo, sendo as reviews algo extra, que nunca me são pedidas, mas que eu crio para quem segue o canal. E as editoras sabem que é essa a minha linha e postura! Se não se quiserem sujeitar a essa análise, a parceria não avança. Em suma, se um produtor de conteúdos tiver problemas em fazer uma review honesta e fundamentada com medo de perder parcerias, é porque não está a fazer bem o seu trabalho e nem está no projecto pelos motivos certos! O mesmo se aplica às editoras, se tiverem receios em receber essa crítica é porque também não confiam e não têm um jogo preparado para este mercado global. Quais são os maiores desafios que enfrentas na criação de conteúdos? Eu acho que o maior desafio é não se valorizar o conteúdo feito em Portugal, principalmente pelos próprios portugueses. Quando comecei, em 2016, ouvi muitas vezes que "este é um caminho sem futuro", que "o que é feito lá fora é que é bom", que "ninguém vê unboxings", etc! A verdade é que, 4 anos depois, este é um caminho em crescimento onde se faz cada vez mais e melhor, com cada vez mais seguidores. O conteúdo português é muito bom e é feito com paixão! Nenhum produtor de conteúdos faz este trabalho em full time e somos muitas vezes criticados por não termos a qualidade técnica (ou a quantidade e tipologia de conteúdos) de canais como o Dice Tower ou o Watch it Played. Mas, sejamos sinceros, lá fora os projectos são financiados com gosto pelos seguidores (o que permite a compra de material e dedicação exclusiva a este hobby), algo que dificilmente acontecerá nos próximos anos em Portugal. Portanto, cada um de nós usa o seu tempo livre para falar, da forma que melhor sabe e consegue, sobre jogos de tabuleiro. E se quiserem ajudar o mercado a crescer, passem também a seguir e a apoiar o que é feito pelos Portugueses. Só juntos é que tudo fará mais sentido!
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