Desafiamos Orlando Sá, criador dos reconhecidos jogos “Adamastor” e “Porto” e responsável pelo canal/blog The Blackboard, a sugerir 5 jogos de tabuleiro que, não sendo propriamente recentes, serão indispensáveis numa colecção. Todos os anos, somos bombardeados com milhares de jogos novos. O culto do novo ofusca muitas vezes os brilhantes jogos que temos nas nossas prateleiras e, muitas vezes, esquecemo-nos da sua enorme qualidade. Por isso, a convite do Carlos Ramos, deixo aqui a minha lista de “clássicos modernos” ordenados cronologicamente. Race for the Galaxy (2007)O Race for the Galaxy, assim como o San Juan, pegaram no conceito do Puerto Rico onde cada jogador escolhe um personagem e todos os jogadores fazem a acção desse personagem, mas o jogador que o escolheu tem um bonus. Em Race, não escolhemos um personagem, mas sim um tipo de acção: Explorar, Desenvolver Tecnologias, Colonizar Planetas, Vender Recursos ou Produzir Recursos. Como cada jogador escolhe secretamente uma acção a executar, existe toda uma dimensão de tentar antecipar o que os outros vão fazer de forma a estarmos preparados para executar essas mesmas acções caso outros jogadores as escolham. Race é um dos melhores engine builders, onde vamos construindo um tableau com planetas colonizados e tecnologias desenvolvidas, onde cada carta activará o seu poder especial caso a acção requerida para esse efeito tenha sido escolhida por outro jogador. O jogo é simplesmente fantástico e a primeira expansão (The Gathering Storm) é essencial. Para além de cartas novas, introduz um modo solo que é uma obra prima de criação. Agricola (2007)Até hoje, provavelmente o melhor Uwe. De regras simples e elegantes, este simulador de agricultura de subsistência em pleno período medieval, dá-nos imensas possibilidades e quase tempo nenhum para as concretizar. A gestão das cartas na mão é essencial e a cada jogo a rejogabilidade é brutal devido ao alargado número de cartas que o jogo traz. Muita gente prefere alguns dos jogos mais recentes do Uwe onde as “amarras” não se sentem tanto e onde a fartura abunda. Eu não poderia estar mais em desacordo. Essa asfixia é o que faz este jogo absolutamente genial. O esforço mental de tentar criar uma estratégia baseada nas cartas que temos na mão para podermos escapar à pobreza existencial, torna este joga num paradigma onde o tema se casa perfeitamente com os mecanismos. Isso e a variedade das cartas que ele traz e que eu aconselho a serem escolhidas através de um draft no início de cada partida. 7 Wonders (2010)Absolutamente fabuloso como jogo que pode agradar a gamers como a não-gamers. Um jogo de entrada no hobby que traz tanta riqueza de opções que faz com que cada partida seja diferente. O draft de cartas cria uma interacção muito grande entre os jogadores, pois por vezes é mais benéfico jogar uma carta menos boa para nós só para evitar que ela chegue ao jogador ao nosso lado. Dá para jogar com um elevado número de pessoas e tem uma panóplia de expansões que enriquecem o jogo (excepto talvez a Babel que choca um pouco com a essência do jogo). Agora vejo-me radiante a explorar a nova expansão Armada e a frescura que ela introduz no jogo. Afinal de contas, que outro jogo de estratégia permite que joguemos com 6 outros jogadores num espaço de apenas 30 minutos e que cheguemos ao final com a sensação de que criamos uma pequena civilização? Troyes (2010)Para mim o melhor dice drafter que joguei até hoje. Com regras simples e elegantes, Troyes é o exemplo perfeito daquilo que eu considero um euro onde tudo faz sentido: temática e mecanicamente. Por vezes os designers de jogos mais complexos, sentem-se mais à vontade de adicionar pequenas regras e nuances porque o público alvo assim as aceita, mas quase sempre isso surge como resposta a problemas específicos e poucas vezes com um enquadramento global. Por isso admiro profundamente jogos complexos de estratégia que o são porque nos carregam de decisões interessantes ao invés de nos carregarem de regras e regrinhas. É refrescante pegar no Troyes seis meses depois da última partida e não ter que estar a reler durante uma hora o livro de regras. Poderia colocar aqui também o Concordia (2013) nesta categoria de euros elegantes, carregados de boas decisões. Mas escolho o Troyes pela altíssima rejogabilidade que as cartas das profissões introduzem. E se estiverem com vontade de o jogar a solo para apreciar o requinte do seu design, o lendário Shadi Torbey (Onirim) criou uma versão solo bastante desafiadora. Mage Knight (2011)Talvez o melhor jogo solo feito até hoje. Talvez o jogo que melhor casa os mecanismos dos euros com o tema de exploração num universo fantasioso. Talvez a obra prima da mente daquele que é, pelo menos para mim, o mais brilhante criador de jogos na actualidade: Vlaada Chvátil. Um criador tão flexível quanto inspirador, que nunca se deixou assentar na facilidade de criar o mesmo tipo de jogos, para o mesmo tipo de público. Um criador que explora os limites do espaço criativo como ninguém. Mage Knight é complexo, intrincado, desafiador e cheio de regras e regrinhas. Aquelas mesmas que acabei de criticar acima mas que criam uma envolvência temática de tal amplitude que sou obrigado a percorrer esse purgatório de reler o livro de regras de cada vez que ele vai à mesa. Mas ao contrário de muitos outros euros, é um prazer ler através dessas páginas de difícil acesso porque o conteúdo que delas emana é irresistível. Um euro como nenhum outro. Um jogo de fantasia como nenhum euro. O meu jogo solo número um.
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